terça-feira, 9 de agosto de 2011

Manuela nunca teve uma casa com paredes internas, banheiro com descarga "de apertar", um quarto. Ela só conhece uma grande sala com várias camas de cimento, colchões fininhos e infiltrações nas paredes. Os brinquedos quebrados que ficam no parquinho ainda são parte de um futuro distante. Nunca teve uma família, lembrança de nascimento ou sequer ecografias. Pai, nem sabe o que vem a ser isso...Tem dois meses. Apenas ouve sons e distingue algumas luzes. Seu único conforto é o colo da mãe - que a rejeita.O que Manuela não sabe e nem imagina é que tem seis irmãos. Dois ela vê uma vez por mês, por alguns minutos. Os outros...Quem são os outros?Os quatro restantes estão por aí soltos no mundo porque são meninos de mais sorte que juízo. Já poderiam estar pagando por suas irresponsabilidades. Dizem que as crianças até os sete anos apenas vêem o espírito da gente, justificativa plausível para fazer a pequena Manuela chorar tanto. Faz frio, o termômetro marca seis graus. A bebê possui apenas um cobertor.O tempo passa mas os dias são iguais.Não entende porque recebe a visita de uma "tia estranha" que sempre faz a sua mãe ter raiva.Seus olhinhos brilhantes apenas acompanham.Aos sete meses o leite da mãe secou.Arroz, feijão e cenoura, quase todos os dias, se não quiser ficar com fome. Nan, Mucilon ou Sustagem jamais farão parte da sua vida.Um brinquedo, que dia mais feliz! Manuela ganhou um brinquedo da "tia estranha"e não desgruda mais dele. Morde forte para provocar seu único dentinho. Não consegue entender porque sua mãe não gosta da moça que deu o seu único motivo de diversão. O que a bebê não sabe é que agora ela corre contra o tempo. Sua mãe a procura cada vez menos, deixando suas fraldas sujas o dia inteiro.Poderia um bebê ser infeliz? A resposta é sim e Manuela prova isso. O choro constante, os ataques de tosse e o nariz sempre com coriza, mesmo no alto verão.Enquanto algumas crianças brincam em piscinas coloridas ela sequer toma banho.A "tia estranha" entra e Manu vê sua mãe chorando compulsivamente. Um sentimento de culpa, um alívio, algo que a mãe da bebê não sabe descrever. Há um ano atrás Manuela nascia.Hoje, Manuela renasce. Será adotada por uma mãe que muito lhe deseja, com carinho, atenção e, principalmente, muito amor.

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